Movimento Vasco do Povo – Declaração de Fundação
O Vasco deve ser dos Vascaínos

As razões históricas

O Club de Regatas Vasco da Gama, fundado em 21 de agosto de 1898, construiu uma história que o distingue de todos os demais clubes brasileiros.

Sua coleção de glórias vai muito além de suas inúmeras conquistas esportivas. O Vasco já nasceu, em 1898, aberto e inclusivo. Ao contrário de outros clubes associativos da época, o recém-fundado CRVG não fazia filtragem de sócios com base em renda ou cor da pele.

Em 1904, o Vasco elegeu como presidente do Clube o negro Cândido José de Araújo, escrevente da Central do Brasil. Candinho, como era conhecido entre os vascaínos, foi eleito e reeleito. Um trabalhador negro como presidente era impensável nos elitistas clubes da Zona Sul do Rio de Janeiro no início do século XX.

O elitismo não era uma coisa vaga ou disfarçada. O preconceito era concreto e direto. Em 1923, o Vasco, que há muito era uma potência no remo, seu esporte fundador, ganha o campeonato carioca de futebol, com um time de negros e operários. Como reação, Flamengo, Fluminense e Botafogo, considerados os grandes do futebol da época, rompem com a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) e criam a AMEA, Associação Metropolitana de Esportes Atléticos, presidida pelo tricolor Arnaldo Guinle e que iria passar a organizar os campeonatos de futebol da cidade. Pelo estatuto proposto pela nova entidade, não poderiam jogar futebol, segundo o artigo 65, trabalhadores braçais, pessoas que não sabiam ler ou escrever corretamente, que aceitassem o recebimento de gorjetas ou que desempenhavam “profissões subalternas” (incluindo explicitamente nesta categoria soldados, cabos e sargentos), entre outros absurdos. Em uma época (década de 1920) em que o analfabetismo no Brasil superava o índice de 70% da população em geral e a concentração de renda era ainda pior do que a de hoje em dia, o recado da AMEA era claro: negros e trabalhadores não podem jogar futebol.

Foi com base neste estatuto elitista e racista que a inscrição de 12 atletas do futebol vascaíno (11 deles negros) foi recusada pela AMEA, motivando a famosa “resposta histórica” assinada pelo presidente José Augusto Prestes. Nela, Augusto Prestes, falando em nome do Vasco, diz que a decisão da AMEA não pode ser justificada “nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados” e informa a Arnaldo Guinle a decisão final dos vascaínos: “sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA”.

A corajosa atitude do Vasco granjeou grande apoio popular e teve forte impacto social.

Aos poucos, o Vasco foi se transformando em um fenômeno de massas, cantado nos sambas de Noel e acompanhado por uma multidão por onde jogasse.

A inauguração de São Januário, em 1927, inteiramente pago com dinheiro dos vascaínos, foi outro capítulo heroico contra o cerco que os clubes elitistas buscavam promover. São Januário foi palco de eventos cívicos e culturais marcantes na história do Brasil.

Na década de 1940, com o Expresso da Vitória, o Vasco ganha ainda mais dimensão nacional, tornando-se em si mesmo um fator cultural da identidade brasileira, pois não existe um rincão neste país, por mais remoto, onde não pulse um coração vascaíno.

Com o título da taça de Campeão dos Campeões Sul-Americano em 1948, no Chile, primeira conquista de uma equipe de futebol tupiniquim em terras estrangeiras, o Vasco ganha o mundo.

Tudo isso não deixou de causar ressentimentos nos que sempre alimentaram, secretamente, seus preconceitos contra aquele clube suburbano que ousou desafiar o “status quo”.

Durante décadas, o sonho dos nossos adversários foi ver um Vasco subalternizado, diminuído.

Infelizmente, tal sonho encontrou expressão na realidade, com o auxílio de pessoas do próprio Vasco da Gama.

Em agosto de 2022 o futebol do Vasco foi vendido. Foi uma venda à toque de caixa. Em menos de 7 meses o processo estava concluído.

A venda de 70% do futebol vascaíno foi feita sem que os sócios do CRVG tivessem acesso ao contrato. Ou seja, os proprietários do Clube (os sócios) venderam a parte mais valiosa do seu patrimônio, sem conhecerem as condições da venda, algo talvez inédito no mundo.

A empresa compradora, sem qualquer expertise no ramo do desporto, 777 Partners, tinha apenas sete anos de existência quando comprou o futebol centenário do Vasco.

Devido à pressa dos vendilhões, o processo de venda passou por cima do estatuto vascaíno, das leis do país e da própria mal ajambrada lei da SAF.

Uma poderosa máquina de propaganda, no entanto, sufocava qualquer questionamento ou divergência de opinião. “O Vasco tem pressa por títulos”, diziam os vendedores de sonhos, garantindo que “estava no contrato” que o Vasco iria disputar para vencer o campeonato brasileiro, a Libertadores e o Mundial.

Dirigentes mal-intencionados iludiam, assim, torcedores desorientados, que não tinham acesso a informações sobre o que estava de fato acontecendo.

A desilusão, no entanto, veio rápida. Ao contrário do prometido, clubes associativos com muito menos história, torcida e patrimônio, disputam e vencem importantes campeonatos, enquanto a SAF deixa claro todo o tamanho do estelionato cometido: a “pressa de títulos” foi, como em um passe de mágica, convertida em “projeto a longo prazo” e a própria empresa anuncia expectativas de resultados que colocam o Vasco em eterno papel de coadjuvante.

A atual diretoria do CRVG, eleita com apoio dos que venderam o clube e ela mesma entusiasta da venda, ensaia críticas à empresa dona do futebol sem, entretanto, apresentar propostas claras e concretas ou perspectivas de retomada do nosso destino.

A luta pela abertura do contrato, pela responsabilização dos que cometeram eventuais crimes contra o patrimônio vascaíno e finalmente pela anulação/reversão da venda ou para que o Vasco assuma o controle acionário da SAF é uma luta pela salvação da alma vascaína.

Diante disso, um grupo de sócios e torcedores do Vasco, convencidos de que a própria existência do CRVG está em risco, anuncia a criação do Movimento Vasco do Povo – uma associação sem fins lucrativos que lutará para que o futebol vascaíno volte a ser do Club de Regatas Vasco da Gama.

 

Paixão não se vende. O Vasco é do Povo!

Movimento Vasco do Povo – 28 de abril de 2024

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